domingo, 17 de maio de 2009

Texto: O SINO

O sino do Ângelus:

(Fonte: Mons. Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”)


O Ângelus compõe-se de duas partes essenciais: a oração e o som do sino. O sino dá ao Ângelus uma solenidade excepcional.

Por que o sino toca o Ângelus de manhã, ao meio-dia e à tarde? Por ordem da Igreja Católica, cumpre a palavra do rei profeta: "À tarde, de manhã e ao meio-dia, cantarei os louvores de Deus, e Deus ouvirá a minha voz"À tarde, canta o princípio da Paixão do Redentor no Jardim das Oliveiras. De manhã, a sua Ressurreição, e ao meio-dia a sua Ascensão.
De manhã, dá o sinal do despertar, da oração e do trabalho. Ao meio-dia, adverte o homem de que a metade do dia é passada, e que a sua vida não é mais que um dia.
À tarde, toca ao recolhimento e ao repouso. Diz ao homem: faze tuas contas com Deus, pois esta noite talvez Ele exigirá a tua alma.
Fazendo ouvir a sua voz três vezes por dia, recorda aos cristãos as lembranças de um glorioso passado, essas belicosas expedições, a honra eterna dos Papas, que salvaram o Ocidente da barbárie muçulmana..
..Toca três vezes, para recordar as três Pessoas da Trindade, às quais o mundo é devedor da Encarnação.
Toca nove vezes, em honra dos nove coros de anjos, para convidar os habitantes da Terra a abençoar com eles o seu comum benfeitor.
Entre cada tinido - ou melhor, entre cada suspiro - deixa um intervalo, para que sua voz desça mais suavemente ao coração e desperte com mais segurança o espírito de oração.
Por que, depois do tinido do Ângelus, o sino faz ribombar sua voz? Canta uma dupla redenção: a redenção dos vivos, pelo mistério da Redenção, e a redenção dos finados, pela indulgência ligada ao Ângelus.
Ao Purgatório toca uma felicidade, e a Maria a saudação de uma alma que entra no céu. Assim opera a Igreja da terra, cheia de ternura por sua irmã padecente.
Por que chora o sino na agonia? Se reflete as alegrias deve refletir também as dores.
Para sustentar o jovem cristão nos combates da vida, o sino pede as nossas orações.
Como não solicitá-las nas lutas da morte? Entre todas, estas lutas não são as mais terríveis e as mais decisivas.
No toque da agonia, o sino diz: "Miseremini mei saltem vos amici" - Tende piedade de mim, pelo menos vós que fostes meus amigos! Vinde orar por mim, vinde sepultar o meu corpo, vinde acompanhá-lo à igreja, depois ao dormitório, onde ele deve repousar até a ressurreição dos mortos.
O sino, nesse momento, assemelha-se a uma mãe que, na sua terna solicitude, não se permite nem paz nem trégua, para clamar em socorro de seus filhos desgraçados e obter a sua libertação.
Também o sino deve tornar o cristão invencível na sua guerra contra os demônios.
Ao estridor dos sinos - acrescenta um de nossos antigos liturgistas - os espíritos das trevas são penetrados de terror, da mesma forma que um tirano se espanta quando ouve ressoar nas suas terras as trombetas guerreiras de um monarca seu inimigo.



Toque de recolher: no inverno, nos países montanhosos, pelas nove horas da noite, o sino faz ouvir a sua voz mais forte.

Chama o viajante desencaminhado, e indica-lhe a estrada que deve seguir para chegar ao lugar onde achará a hospitalidade. Uma imagem do que também acontece com as almas perdidas no pecado.
Eram inteiramente outros os sentimentos de nossos religiosos antepassados.
Testemunhas inteligentes das bênçãos e das consagrações praticadas pela Igreja no batismo dos sinos, devotavam-lhe um profundo respeito e santo pavor.Daí vem que temiam infinitamente mais jurar sobre um sino consagrado do que sobre os próprios Evangelhos.

As bênçãos do toque do sino


O sino é quase tão antigo quanto à civilização.

Porém, como nós o conhecemos é um instrumento típico das igrejas católicas e dos prédios públicos da Cristandade.

Ele fica um instrumento religioso quando a Igreja Católica lhe confere suas bençãos e lhe comunica seu poder exorcístico numa cerimônia especial,
Os primeiros sinos eclesiásticos importantes apareceram nos mosteiros nos séculos IV e V, i. é, na ante-véspera e no iniciozinho da Idade Média.
Eles se generalizaram nas igrejas católicas já no século VII. Na dianteira saiu a região da Campania, na Itália, cuja capital é Nápoles. Do nome de Campânia vem a palavra "campana", com que também se designa o sino O sino nasceu católico, por isso a Igreja o ama como a mãe ama o seu filho. Ela benze o metal de que é feito.
Logo que ele veio ao mundo, a Igreja o batizou e fez dele um ente sagrado..
Pouco ou mal se fala sobre este fruto abençoado da Igreja Católica que assumiu sua forma atual na Idade Média
Com razão, porque o sino é destinado a cantar tudo o que há de santo e de santificante na terra e no céu
Reunidos os fiéis em roda do sino, suspenso a alguns metros acima do solo, o bispo em hábitos pontificais chega majestosamente, acompanhado do clero e seguido do padrinho e da madrinha do sino.
Em nome de Deus, de quem é ministro, o bispo chama sobre essa maravilhosa criatura a virtude do Espírito Santo, que a torna fecunda no primeiro dia da criação.
Certo de ser atendido, o bispo asperge o sino, ao qual confere o poder e o dever de afastar de todos os lugares, onde seu som repercutir, as potências inimigas do homem e de seus bens: os demônios, as trombas, o raio, o granizo, os animais maléficos, as tempestades e todos os espíritos de destruição.

Vejamos sua missão positiva.

A sua voz proclamará os grandes mistérios do Cristianismo, aumentará a devoção dos cristãos, para cantar novos cânticos na assembléia dos santos, e convidará os anjos a tomar parte nos seus concertos.
O sino fará tudo isto, porque esta missão lhe é confiada em nome d'Aquele que possui todo o poder no céu e na terra.
.Pelas orações e cerimônias que o acompanham, o batismo vai dizer-lhe a sua vocação.
A Igreja sempre teve em muito respeito o sino, o que se mostra com novo esplendor nas preces e nas cerimônias do seu batismo..
Alias, o quanto seus efeitos benéficos se fariam mais intensamente se hoje se eles fossem tocados como a Igreja quer!
Quantos sabem quais são os efeitos espirituais santificantes do sino das igrejas?
Eis, uma substanciosa explicação das bençãos do toque do sino feita por um digno representante do clero francês, Mons. Jean-Joseph Gaume (1802-1879), célebre pela sua ciência teológica:Cada badalada faz retinir ao longe os dois mistérios de morte e de vida - alpha e ômega - mistérios necessários para orientar a vida do homem, consolar as suas esperanças.

















Não admira, pois, que o bispo, dirigindo¬-se ao próprio sino, o dedique a um santo ou a uma santa no paraíso, e lhe diga, com uma espécie de respeitosa ternura: “Em honra de São N., a paz doravante seja contigo, caro sino”.
Como o sino deve ter um nome, é preciso também que ele tenha um padrinho e uma madrinha.
O nome é gravado no sino, abaixo da cruz em relevo, que o marca com o selo de Nosso Senhor e o consagra ao seu alto culto.
Daí vem um fato pouco notado: o amor dos verdadeiros filhos da Igreja ao sino, e o ódio que lhe têm os inimigos de Deus.Uma das mais doces alegrias de nossos pais, ao saírem da Revolução Francesa, foi ouvir os sinos, que haviam emudecido durante muitos anos.Este incontestável poder do sino contra os demônios do ar justifica a virtude que ele goza, de dissipar os ventos e as nuvens, de afugentar diante de si o granizo e o raio, de conjurar as tempestades e os elementos desencadeados, pois que todas essas perniciosas influências da atmosfera provêm muito menos de coisas naturais do que da maldade desses gênios maléficosNossos pais, na hora do perigo, faziam ouvir ao Pai Celeste, ao som dos sinos, seu primeiro grito de alarme. O Senhor não permanecia muito tempo insensível à voz do seu povo.A corda que serve para tocar o sino, essa corda que sobe e desce sem cessar, indica o trabalho do pregador, e é também imagem da nossa vida.

(Fonte: Mons. Jean-Joseph Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”, Editions Saint-Remi, 2005)
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O Menino-Deus adorado por

Reis dotados de conhecimentos

astronômicos pasmosos:

cena sagrada que encantou os medievais

Em 6 de janeiro, desde os primeiros séculos, a Igreja celebra a festa da Epifania, ou seja, a visita dos Reis, também chamados de Magos ou Sábios, que foram adorar o Menino Deus.

Epifania, em grego, significa manifestação, ou também revelação esplendorosa.

De início, a festa celebrava-se no próprio dia de Natal. O mais antigo registro dela é do historiador romano Ammianus Marcellinus no ano 361.
Foi na Idade Média, precisamente no ano de 534, que a Igreja separou as duas festas para comemorá-las com mais pompa, e fixou o dia 6 de janeiro como da Epifania ou da Adoração dos Magos A visita significou a manifestação de Nosso Senhor não somente aos judeus, mas a todas as nações da Terra, representados pelos Reis Magos.
Segundo a tradição seus nomes eram Melchior, Gaspar e Balthazar (habitualmente representado como preto). Segundo São Mateus, eles vieram do Leste de Jerusalém, o que leva a pensar que fossem patriarcas, ou reis, vindos da área cultural da Caldéia.
Os caldeus tinham grandes conhecimentos de astronomia, de ali que os Reis fossem também chamados de Magos, nome que no caso no contém nenhuma conotação desdourante, e também de Sábios.







Conta-se que eles pertenciam a estirpes de reis locais que tiveram a intuição de que o mundo, tendo chegado a uma situação de decadência sem saída, precisaria de um Redentor que haveria de nascer dos judeus.
Pelos seus cálculos astronômicos, o nascimento haveria de ser sinalizado por uma estrela no Céu.
A tradição passou de geração em geração nas famílias desses reis, até que cumpriram-se os tempos.
E a estrela anunciada apareceu e os guiou até Belém.

Eles levaram um rico cortejo e presentes preciosos para o Salvador da humanidade.

Como foi possível tanta ciência astronômica? Não houve também um auxílio sobrenatural? Qual?

É fato que a arqueologia revela que povos antiqüíssimos possuíam conhecimentos que hoje a ciência mais avançada recupera com ingentes e admiráveis esforços e imensas aplicações de dinheiro e tecnologia. A matéria é ampla e apaixonante demais para tratá-la agora. O faremos mais adiante.

Entrementes, eis como o episódio sagrado é descrito pelo Evangelho de São Mateus (2; 1-18):












1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.

2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.

3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.

4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.

5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:

6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo(Miq 5,2).

7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.

8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.

9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.

10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.

11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.

12. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.

13. Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.

14. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.

15. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1).






16. Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos.

17. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias:

18. Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jer 31,15)!
Aquelas infelizes, mas gloriosas vítimas do ódio a Jesus Cristo, rei de Israel e Redentor do mundo são lembradas pela Igreja como o Santos Inocentes.

A Igreja comemora os Santos Inocentes no dia 28 de dezembro.

Sobre o rei Herodes ver:

Enquanto os Santos Inocentes reinam no Céu, o túmulo de Herodes segue envolto numa lembrança horrorizada

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Tranqüilidade sobrenatural e oração diante do Menino-Deus





No afresco do famoso pintor italiano Giotto (*), Nossa Senhora, segura seu Divino Filho no colo. Ela aparece sentada numa espécie de troneto colocado sobre um estradozinho ricamente atapetado, e ricamente vestida. Para receber os Reis, compreende-se que Ela se vestiu com aparato.

Atrás de Nossa Senhora aparecem um anjo, São José, santos e outras pessoas do Templo que o autor quis representar. Ou talvez sejam pessoas que no futuro contemplariam tal cena em espírito e em oração.

Um dos reis adora o Menino Jesus e osculando seus pés. Os dois outros monarcas estão tranqüilos, comprazidos em oração diante de Nossa Senhora e do Menino-Deus, vendo seu irmão na realeza, adorar o Divino Infante.

Estão contentes com tudo o que se passa, aguardando chegar a vez deles. Mas sem impaciência, com a tranqüilidade e a serenidade medieval, que exprimia bem a presença de Deus, o espírito e a graça divinos na alma desses personagens.

Logo atrás dos dois Reis, um pagem está freando ou subjugando o camelo, para que este não crie problemas. Esse personagem é um animalis homo, sem nada de sobrenatural, de tranqüilo e sereno. É um homem bruto, agitado e prestando atenção em tudo, de nariz pontudo, de olhos saltados e mandão. Está bem à altura de um tratador de camelos.

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