Aprenda Como compreender os adolescentes
Aquela mulher expressava uma preocupação muito vulgar: «O meu filho tem quinze anos e a minha filha vai fazer treze. Eu e o meu marido passamos a vida a ouvir falar dos problemas que afectam os adolescentes de hoje: sexo, droga, álcool, alienação, abandono dos estudos. Estamos seriamente preocupados com eles!»
Calou-se por momentos e depois continuou: «Fomos sempre uma família muito unida, mas agora acho que as coisas vão mudar ... »
«Mas porque é que hão-de ter de mudar?», perguntei, curioso. Embora um adolescente sofra profundas modificações físicas e emocionais, isso não significa necessariamente que ele se torne imoral ou anti-social. Os jovens com problemas deste tipo representam apenas uma pequena percentagem da totalidade dos adolescentes.
«Mas como é que eu posso ter a certeza de que os meus filhos vão juntar-se à maioria?», perguntou-me a mesma mãe. «Continuando a ser uma mãe firme e carinhosa», respondi-lhe. Isso não significa tratá-los da mesma maneira como quando eles eram mais novos. À medida que os filhos vão crescendo, eles exigem e merecem uma maior liberdade. Ser demasiado rígido e autoritário para com um adolescente, por exemplo, só pode conduzir a uma destrutiva medição de forças. Nenhum pai ou mãe deseja perder o contacto com os filhos numa altura em que eles precisam de todo o apoio que os pais possam dar-lhes.
Não existe, para tanto, uma fórmula mágica. No seio de uma mesma família, cada adolescente tem atitudes e reacções que lhe são próprias. No entanto, há certas linhas de conduta que podem ajudar os pais a evitar os erros mais vulgares nesta fase da vida dos filhos.
Prepare-se a tempo e horas.
Quanto mais estreita for a relação com os seus filhos na pré-adolescência, tanto mais fácil se tornará depois o seu papel de pai. As crianças «para quem olhamos, mas às quais não damos ouvidos», tornam-se muitas vezes adolescentes sem consciência do seu próprio valor. Evite considerar sistematicamente banal aquilo que eles contam do seu dia-a-dia. Oiça-os com atenção. Faça -lhes sentir que aquilo que dizem é importante, que a opinião deles é tida em conta; dessa forma, estará a desenvolver neles a confiança e o amor-próprio.
Habitue-os a tomar decisões.
É perfeitamente possível conseguir que os jovens façam determinada coisa sem assumir um ar mandão. Na realidade, uma das finalidades da disciplina é ensinar as crianças a decidirem por si sós. Sempre que possível, apresente ao seu filho várias opções. Por exemplo, pergunte-lhe se ele prefere arrumar o quarto antes ou depois das aulas. Fica assim bem claro que ele terá sempre de arrumar o quanto, mas pelo menos é-lhe dada a possibilidade de ser ele a escolher o momento. Quando as minhas duas filhas estavam na instrução primária, tivemos de mudar de casa. Em vez de ser-mos nós os pais a decorar os quartos delas, decidimos consultá-las primeiro. O resultado foi uma diferença total entre os dois quartos e um proveitoso exercício na arte de saber optar. Este tipo de treino precoce desenvolve na criança a capacidade de ponderar os prós e os contras. Compreenda os problemas próprios do crescimento. À medida que as crianças se aproximam da adolescência, precisam - e geralmente tomam - de mais liberdade. É natural e é saudável. Todavia, quase todos os dias aconselho pais que não conseguem compreender por que motivo o filho ou filha adolescentes desobedecem e recusam participar na vida familiar. Dizia uma mãe, queixando-se amargamente:
«Quando saímos juntas, a minha filha, de catorze anos, vai sempre um passo ou dois atrás ou à frente. Será que tem vergonha da própria mãe?» A explicação é simples: como os jovens da sua idade se reúnem nos cafés ou nos jardins, ela não quer ser vista a passear pela cidade com a mãezinha. Dando aos adolescentes mais espaço - em todos os sentidos -, você estará a manter a imagem de independência que eles querem dar e evitará conflitos inúteis.
Você nem sempre irá compreender o porquê das atitudes dos seus filhos. Por vezes, eles têm, de facto, comportamentos estranhos. É o que costumo aconselhar aos pais é prudência no terreno das discussões. Decida, pois, quais os comportamentos que pensa poder tolerar e evite atribuir-lhes importância demasiada. Talvez tenha uma surpresa quando o seu filho chegar à conclusão de que o cabelo à punk já não lhe fica bem.
Compartilhem os seus mundos.
Uma vez, sugeri a uma mãe que pedisse opinião à filha, de 15 anos, sobre a maneira de se maquilhar, pentear e vestir. Até então, as relações das duas eram sempre tensas. Os conflitos geravam-se porque a filha necessitava de uma independência que a mãe lhe recusava intransigentemente. A senhora aceitou experimentar a minha sugestão. Conforme veio a descobrir, a filha tinha já um gosto muito apurado e a ida às compras revelou-se para ambas uma experiência agradável e divertida. Mais importante ainda, a adolescente sentiu-se lisonjeada por a mãe confiar no seu gosto. Um mês depois, a mãe informou-me de que as duas tinham tido a primeira conversa sobre questões relacionadas com o sexo e a moral. «Ainda não conseguimos estar cem por cento de acordo», acrescentou ela, «mas pelo menos trocamos opiniões.»
O simples fato de abordar questões de interesse comum geralmente abre as portas à comunicação. E, uma vez abertas, nunca se sabe o tipo de confidências cruciais que delas podem sair.
Não esqueça a importância das refeições.
Ponha o relógio a despertar 10 minutos mais cedo, tome um bom pequeno-almoço em família e procure manter a conversa animada à volta da mesa. Se o seu filho adolescente disser que vai ter um ponto de Matemática, lembre-se de que esse já não é o momento indicado para o recriminar por não ter estudado o suficiente. Deseje-lhe boa sorte e anime-o. (Um telefonema nessa mesma tarde para saber como correu o ponto talvez seja boa ideia.) Se vier a propósito, diga que também você vai ser posto à prova nesse dia numa importante reunião de negócios ou numa visita a um cliente. Este tipo de informação cria uma ligação especial entre pais e filhos.
Com um pouco de esforço, você pode fazer do jantar uma experiência familiar mais rica. Na nossa casa, te mos como lei não ver televisão durante as refeições. Nada impede tanto a comunicação entre as pessoas como um aparelho de televisão. Sou eu mesmo que incito as minhas filhas a trazerem os amigos para jantar e também convido os meus colegas. Dou a entender que nenhum assunto é tabu, e as nossas conversas são geralmente descontraídas e esclarecedoras.
Conheça os amigos dos seus filhos.
Os adolescentes, só por si, raramente se metem em confusões. Conhecer o grupo de adolescentes a que o seu filho ou filha pertencem é muitas vezes a melhor maneira de saber o que eles fazem. Muitos pais têm por princípio encorajar os filhos a convidarem os amigos lá para casa. É uma maneira de vigiar as companhias e de fazer da casa um refúgio.
E se o seu filho preferir encontrar-se com os amigos fora de casa? Arranje outra maneira de poder conhecê-los, como aquela mãe que convidava os amigos da filha para ensaiarem lá em casa a peça que iam representar na escola. Evite criticar os amigos dos seus filhos: «A Maria pinta-se demasiado» ou «O João tem sempre um ar desmazelado». Lembre-se: o essencial é manter abertas as portas da sua casa e saber quem são as companhias do seu filho. Se o seu filho adolescente resistir aos seus esforços nesse sentido, pergunte-lhe, mas sem agressividade: «Com quem é que tens andado nestes últimos dias?» ou «Por que é que eu nunca vejo os teus amigos?» E, se também isso não der resultado, talvez convenha levar o inquérito um pouco mais longe.
Crie redes de informação.
Nada afasta mais um adolescente do que um pai ou uma mãe desconfiados ou intrometidos. No entanto, às vezes há motivos bastante fortes para os pais quererem saber o que se passa com os filhos. Geralmente, os professores podem fornecer informações valiosas. Não deixe de comparecer às reuniões de pais promovidas pela escola.
Uma outra fonte de informação são os outros pais - não propriamente uma rede de espionagem, mas um meio de averiguar o que eventualmente possa acontecer além da rotina do dia-a-dia. Por exemplo, suponha que a sua filha, de 16 anos, lhe diz que foi convidada por uma amiga para ir passar o fim-de-semana na quinta dos pais dela. Como verificar a veracidade do que diz sem que ela se irrite com as suas desconfianças? Se a sua filha se opuser a que telefone aos pais da amiga para lhes agradecer o convite, faça-lhe ver que é um pai (ou mãe) que se preocupa com o que lhe possa acontecer. De qualquer modo, talvez consiga confirmar o convite sem desencadear uma tempestade de protestos.
Estabeleça limites razoáveis.
Como muitos outros pais, já fiquei muitas vezes acordado até tarde aos sábados à noite, esperando ouvir as minhas filhas meterem a chave à porta, correndo depois a deitar-me para que elas não desconfiassem de nada. Lá fora, na rua, há carros em alta velocidade, condutores embriagados, violência e uma infinidade de outros perigos. Partilhe as suas preocupações com o seu filho adolescente e explique-lhe que elas são fruto do amor que lhe tem, e não de desconfiança. Convém que assentem os dois numa hora razoável de chegar a casa. Eu sempre disse aos meus filhos: «Se virem que vão chegar tarde, por favor telefonem a avisar.» Isso não me impede de ficar preocupado, mas pelo menos sei que estão bem.
É inteiramente errado achar que os adolescentes devem cometer toda a espécie de asneiras para «aprenderem» o que está certo. Como pai ou mãe, você tem obrigação de lhes fornecer o acesso a informações correctas sobre o álcool, drogas e sexo muito antes de eles chegarem à adolescência. Isso pode ser feito em casa, na igreja, na escola ou através de leituras adequadas. O que raramente dá resultados práticos são os compridos sermões e as tácticas de amedrontamento. Se há um ou outro assunto em que não se sente à vontade, não hesite em procurar ajuda especializada. Aconselhe-se com o médico, um padre ou um psicólogo.
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