quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Aprenda compreender os adolescentes





















Aprenda Como compreender os adolescentes
Aquela mulher ex­pressava uma preocupação muito vulgar: «O meu filho tem quinze anos e a minha filha vai fazer treze. Eu e o meu ma­rido passamos a vida a ouvir falar dos proble­mas que afectam os ado­lescentes de hoje: sexo, droga, álcool, alienação, abandono dos estudos. Estamos seriamente preocupados com eles!»
Calou-se por momentos e depois continuou: «Fomos sempre uma fa­mília muito unida, mas agora acho que as coisas vão mudar ... »
«Mas porque é que hão-de ter de mudar?», perguntei, curioso. Embora um adolescente sofra profundas mo­dificações físicas e emocionais, isso não significa necessariamente que ele se torne imoral ou anti-social. Os jovens com problemas deste tipo re­presentam apenas uma pequena percentagem da totalidade dos adoles­centes.
«Mas como é que eu posso ter a certeza de que os meus filhos vão juntar-se à maioria?», perguntou-me a mesma mãe. «Continuando a ser uma mãe firme e carinhosa», respondi-lhe. Isso não significa tratá-los da mesma maneira como quando eles eram mais novos. À medida que os filhos vão cres­cendo, eles exigem e merecem uma maior liberdade. Ser demasiado rí­gido e autoritário para com um ado­lescente, por exemplo, só pode con­duzir a uma destrutiva medição de forças. Nenhum pai ou mãe deseja perder o contacto com os filhos numa altura em que eles precisam de todo o apoio que os pais possam dar-lhes.

Não existe, para tanto, uma fór­mula mágica. No seio de uma mesma família, cada adolescente tem atitudes e reacções que lhe são próprias. No entanto, há certas li­nhas de conduta que podem ajudar os pais a evitar os erros mais vulgares nesta fase da vida dos filhos.


Prepare-se a tempo e horas.

Quanto mais estreita for a relação com os seus filhos na pré-adolescên­cia, tanto mais fácil se tornará depois o seu papel de pai. As crianças «para quem olhamos, mas às quais não da­mos ouvidos», tornam-se muitas ve­zes adolescentes sem consciência do seu próprio valor. Evite considerar sistematicamente banal aquilo que eles contam do seu dia-a-dia. Oiça-os com atenção. Faça­ -lhes sentir que aquilo que dizem é importante, que a opinião deles é tida em conta; dessa forma, estará a desenvolver neles a confiança e o amor-próprio.
Habitue-os a tomar decisões.


É perfeitamente possível conseguir que os jovens façam determinada coisa sem assumir um ar mandão. Na rea­lidade, uma das finalidades da disci­plina é ensinar as crianças a decidi­rem por si sós. Sempre que possível, apresente ao seu filho várias opções. Por exemplo, pergunte-lhe se ele prefere arrumar o quarto antes ou depois das aulas. Fica assim bem claro que ele terá sempre de arrumar o quanto, mas pelo menos é-lhe dada a possibilidade de ser ele a escolher o momento. Quando as minhas duas filhas esta­vam na instrução primária, tivemos de mudar de casa. Em vez de ser-mos nós os pais a decorar os quartos delas, decidimos consultá-las primeiro. O resultado foi uma diferença total entre os dois quartos e um proveitoso exercício na arte de saber optar. Este tipo de treino precoce desenvolve na criança a capacidade de ponderar os prós e os contras. Compreenda os problemas pró­prios do crescimento. À medida que as crianças se aproximam da adoles­cência, precisam - e geralmente tomam - de mais liberdade. É natural e é saudável. Todavia, quase todos os dias aconselho pais que não conse­guem compreender por que motivo o filho ou filha adolescentes desobe­decem e recusam participar na vida familiar. Dizia uma mãe, queixando-se amargamente:
«Quando saímos jun­tas, a minha filha, de catorze anos, vai sempre um passo ou dois atrás ou à frente. Será que tem vergonha da própria mãe?» A explicação é sim­ples: como os jovens da sua idade se reúnem nos cafés ou nos jardins, ela não quer ser vista a passear pela ci­dade com a mãezinha. Dando aos adolescentes mais espaço - em to­dos os sentidos -, você estará a manter a imagem de independência que eles querem dar e evitará confli­tos inúteis.
Você nem sempre irá compreender o porquê das atitudes dos seus filhos. Por vezes, eles têm, de facto, com­portamentos estranhos. É o que cos­tumo aconselhar aos pais é prudência no terreno das discussões. Decida, pois, quais os comportamentos que pensa poder tolerar e evite atribuir­-lhes importância demasiada. Talvez tenha uma surpresa quando o seu fi­lho chegar à conclusão de que o ca­belo à punk já não lhe fica bem.

Compartilhem os seus mundos.

Uma vez, sugeri a uma mãe que pe­disse opinião à filha, de 15 anos, so­bre a maneira de se maquilhar, pen­tear e vestir. Até então, as relações das duas eram sempre tensas. Os conflitos geravam-se porque a filha necessitava de uma independência que a mãe lhe recusava intransigen­temente. A senhora aceitou experi­mentar a minha sugestão. Conforme veio a descobrir, a filha tinha já um gosto muito apurado e a ida às compras revelou-se para ambas uma experiência agradável e diver­tida. Mais importante ainda, a ado­lescente sentiu-se lisonjeada por a mãe confiar no seu gosto. Um mês depois, a mãe informou-me de que as duas tinham tido a primeira con­versa sobre questões relacionadas com o sexo e a moral. «Ainda não conseguimos estar cem por cento de acordo», acrescentou ela, «mas pelo menos trocamos opiniões.»
O simples fato de abordar ques­tões de interesse comum geralmente abre as portas à comunicação. E, uma vez abertas, nunca se sabe o tipo de confidências cruciais que delas po­dem sair.
Não esqueça a importância das re­feições.
Ponha o relógio a despertar 10 minutos mais cedo, tome um bom pequeno-almoço em família e pro­cure manter a conversa animada à volta da mesa. Se o seu filho adolescente disser que vai ter um ponto de Matemática, lembre-se de que esse já não é o mo­mento indicado para o recriminar por não ter estudado o suficiente. Deseje-lhe boa sorte e anime-o. (Um telefonema nessa mesma tarde para saber como correu o ponto talvez seja boa ideia.) Se vier a propósito, diga que também você vai ser posto à prova nesse dia numa importante reunião de negócios ou numa visita a um cliente. Este tipo de informação cria uma ligação especial entre pais e filhos.
Com um pouco de esforço, você pode fazer do jantar uma experiência familiar mais rica. Na nossa casa, te­ mos como lei não ver televisão du­rante as refeições. Nada impede tanto a comunicação entre as pessoas como um aparelho de televisão. Sou eu mesmo que incito as minhas filhas a trazerem os amigos para jantar e também convido os meus colegas. Dou a entender que nenhum as­sunto é tabu, e as nossas conversas são geralmente descontraídas e escla­recedoras.
Conheça os amigos dos seus filhos.
Os adolescentes, só por si, raramente se metem em confusões. Conhecer o grupo de adolescentes a que o seu fi­lho ou filha pertencem é muitas ve­zes a melhor maneira de saber o que eles fazem. Muitos pais têm por princípio encorajar os filhos a convi­darem os amigos lá para casa. É uma maneira de vigiar as companhias e de fazer da casa um refúgio.
E se o seu filho preferir encontrar­-se com os amigos fora de casa? Ar­ranje outra maneira de poder conhecê-los, como aquela mãe que convidava os amigos da filha para en­saiarem lá em casa a peça que iam re­presentar na escola. Evite criticar os amigos dos seus filhos: «A Maria pinta-se demasiado» ou «O João tem sempre um ar desmazelado». Lembre-se: o essencial é manter aber­tas as portas da sua casa e saber quem são as companhias do seu filho. Se o seu filho adolescente resistir aos seus esforços nesse sentido, pergunte-lhe, mas sem agressivi­dade: «Com quem é que tens an­dado nestes últimos dias?» ou «Por­ que é que eu nunca vejo os teus ami­gos?» E, se também isso não der resultado, talvez convenha levar o in­quérito um pouco mais longe.


Crie redes de informação.

Nada afasta mais um adolescente do que um pai ou uma mãe desconfiados ou intrometidos. No entanto, às vezes há motivos bastante fortes para os pais quererem saber o que se passa com os filhos. Geralmente, os professores podem fornecer informações valiosas. Não deixe de comparecer às reuniões de pais promovidas pela escola.
Uma outra fonte de informação são os outros pais - não propria­mente uma rede de espionagem, mas um meio de averiguar o que eventualmente possa acontecer além da rotina do dia-a-dia. Por exemplo, suponha que a sua filha, de 16 anos, lhe diz que foi convidada por uma amiga para ir passar o fim-de­-semana na quinta dos pais dela. Como verificar a veracidade do que diz sem que ela se irrite com as suas desconfianças? Se a sua filha se opu­ser a que telefone aos pais da amiga para lhes agradecer o convite, faça­-lhe ver que é um pai (ou mãe) que se preocupa com o que lhe possa acontecer. De qualquer modo, talvez consiga confirmar o convite sem de­sencadear uma tempestade de pro­testos.


Estabeleça limites razoáveis.

Como muitos outros pais, já fiquei muitas vezes acordado até tarde aos sábados à noite, esperando ouvir as minhas filhas meterem a chave à porta, cor­rendo depois a deitar-me para que elas não desconfiassem de nada. Lá fora, na rua, há carros em alta velocidade, condutores embriagados, violência e uma infinidade de outros perigos. Partilhe as suas preocupações com o seu filho adolescente e explique­-lhe que elas são fruto do amor que lhe tem, e não de desconfiança. Con­vém que assentem os dois numa hora razoável de chegar a casa. Eu sempre disse aos meus filhos: «Se virem que vão chegar tarde, por favor telefonem a avisar.» Isso não me impede de ficar preocupado, mas pelo menos sei que estão bem.
É inteiramente errado achar que os adolescentes devem cometer toda a espécie de asneiras para «aprende­rem» o que está certo. Como pai ou mãe, você tem obrigação de lhes for­necer o acesso a informações correctas sobre o álcool, drogas e sexo muito antes de eles chegarem à adolescên­cia. Isso pode ser feito em casa, na igreja, na escola ou através de leitu­ras adequadas. O que raramente dá resultados práticos são os compridos sermões e as tácticas de amedronta­mento. Se há um ou outro assunto em que não se sente à vontade, não hesite em procurar ajuda especiali­zada. Aconselhe-se com o médico, um padre ou um psicólogo.
Paciência, compreensão e muito amor contribuem grandemente para ajudar os pais a lidar com um filho adolescente. Se misturar bem estes ingredientes, em breve se aperceberá de que a adolescência pode ser um período dos mais enriquecedores tanto para o seu filho como para toda a família.
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